(G1 AC) Casal capixaba dá a volta ao mundo de carro e faz parada no Acre
Artigo originalmente publicado em G1 AC, por Tácita Muniz.
Eduardo Prata e Maria Lurdes pretendem conhecer 90 países em 3 anos. Viajantes passaram cinco dias no estado acreano.
Como sonho de conhecer 90 países em 3 anos, um casal capixaba resolveu colocar o pé na estrada e conhecer os cinco continentes a bordo de uma caminhonete devidamente adaptada para a aventura. Eduardo Prata, 60 anos, e Maria de Lurdes, 59, traçaram uma rota inicial dos lugares que querem conhecer, e a capital acreana faz parte deste projeto. De acordo com o casal, para conhecer os outros países é necessário conhecer o Brasil de ponta a ponta. Pensando nisso, resolveram, no meio da viagem, fazer uma parada no Acre, um dos estados brasileiros que ainda não conheciam.
Eduardo era engenheiro portuário em Vitória (ES) e ficou responsável pelo porto da cidade por 30 anos. Até que no dia 16 de outubro de 2013, segundo ele, ao meio dia, colocou os equipamentos de trabalho em uma mala e a atirou no mar. A data não foi à toa, pois, no mesmo dia, o engenheiro completava 60 anos e decidia cumprir a promessa de dar a volta ao mundo com a esposa ao lado. E assim o fez.
O casal estava no Peru e chegou ao Acre esta semana. Eles contam que a primeira impressão do estado foi sentida à flor da pele, literalmente. “Nós ficamos presos em Porto Maldonado porque estava tendo um protesto e só liberaram a estrada às 15h. Pegamos ainda neve na estrada, mas quando chegamos ao Acre logo notamos uma vegetação bem diferente, muita castanha. Porém, o mais engraçado é que a gente estava em um local muito frio e a primeira coisa que fizemos ao chegar ao território acreano foi começar a tirar toda aquela roupa de frio. Foi um vapor, estava bem quente, mas tipo, quente com força”, conta Eduardo entre risos.
A impressão do engenheiro era referente à seringa, castanha e índios no estado. Dessa forma, a primeira coisa que quis conhecer foi as entidades que tomam conta dos indígenas. Ele conta que foi surpreendido pelas atividades voltadas para os povos nativos da floresta e também a forma de tratamento prestado a eles. “Percebi que o trabalho voltado para o índio no estado é bem profissional, porque a imagem de índio que eu tinha era um personagem americano de guerras e matanças, mas é bem diferente’’, explica.
Além disso, o casal conheceu o Rio Acre, Palácio Rio Branco e Museu da Borracha. Um dos pontos mais explorados por Eduardo e Lurdes é a culinária de cada lugar visitado. No Acre, o tambaqui no tucupi foi eleito um dos pratos mais gostosos já experimentados pelo casal. “Uma delícia, adorei esse prato”, enfatiza Eduardo.
O passeio pelos mercados públicos da cidade também agrada aos viajantes. No Centro da cidade, o casal pôde conversar e conhecer mais sobre a capital acreana e seus temperos. “Em cada lugar que vamos procuramos visitar os mercados públicos e conhecer o máximo de pessoas possíveis, tanto bancários quando pessoas que vendem na feira. Nossa intenção é conhecer a cultura de cada lugar a fundo”, destaca Lurdes.
Desde janeiro deste ano, o casal já visitou lugares no Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia e Peru, países que fazem parte da América do Sul, estipulada como a rota inicial dos viajantes. A segunda etapa, consiste em visitar a América Central e Norte da África. Na etapa seguinte: Rússia e Ásia; na quinta, o casal pretende percorrer a Oceania e finalizar a viagem na África.
Em Brasiléia
A visita do casal não ficou restrita apenas à capital acreana. Distante 220 Km de Rio Branco, a cidade de Brasiléia também foi ponto de parada de Lurdes e Eduardo. O motivo? Conhecer de perto a realidade dos imigrantes que entram no Brasil há pelos menos 4 anos e ficam no abrigo da cidade.
“Em Brasiléia foi um negócio muito interessante. Pedimos autorização para entrar e conversar com os imigrantes e moradores. As pessoas com quem conversamos disseram que os imigrantes não traziam nenhum tipo de problema para a cidade. O que me chamou a atenção é que todos os imigrantes andam com duas ou mais garrafas PETs nos braços. Questionei e me disseram que era porque eles sempre procuram local para armazenar água”, conta o engenheiro aposentado.
Após conhecer os imigrantes, Eduardo diz que sentiu que eles são mais felizes em território acreano. “No país deles tem muita guerra civil e aqui eles encontraram um apoio. E é um exemplo para o mundo o que o Brasil está fazendo. Mas o que achei mais curioso é como eles gostam de lavar roupa. Falei para a Lu, os varais são lotados e tem filas enormes para lavar roupa”, lembra descontraído.
Denominado como ‘Lú e Eduardo Prata Na Toca Pelos Cinco Continentes’, o projeto tem o Acre como apenas uma breve passagem, pois a estrada é longa e os lugares diversos. Após ambos se aposentarem, o casal resolveu, em 2013, dar a volta ao mundo no seu carro. Um veículo aconchegante e adaptado para uma aventura dessa proporção, com direito a fogão, chuveiro, cama e cozinha.
“De outubro de 2013 a janeiro de 2014, nos preparamos para essa viagem. Meus três filhos já estão criados, então avisamos que iríamos viajar e voltaríamos após 3 anos. A viagem está programada para 160 mil quilômetros, até agora fizemos 21 mil, mas a gente trabalha para tudo dar certo.
O objetivo inicial é percorrer 90 países em 3 anos, mas eles confessam que um desvio, vez ou outra, é inevitável. “Após sair do Acre, vamos para a Rondônia, passar por Bonito (MS), depois pegamos Amapá, Guianas, Venezuela e seguimos até o Alasca. A gente resolveu traçar uma rota, mas não é uma coisa fixa. Vai de acordo por onde andamos e também através de dicas de algumas pessoas”, explica.
A experiência de dar a volta ao mundo não é desconhecida para Eduardo. Há 10 anos, ele percorreu vários países com uma motocicleta. A aventura deu origem ao livro ‘Extremos das Américas, uma viagem de moto ao Alaska e ao Ushuaia’. Mas, esta é a primeira vez que os dois desbravam esses países juntos.
Dificuldades
Eduardo conta que encontra algumas dificuldades, porém consegue contorná-las de forma que não atrapalhem o andamento do seu sonho. “Às vezes na fronteira tem um guarda mal, uma coisa que você encontra em todo lugar, mas é coisa resolvida rapidamente. Quando se faz uma aventura dessas tem que tirar o medo da cabeça, a gente contorna a dificuldade e segue tocando a viagem”, ressalta.
O casal também esbarrou com a crise que o Acre está passando. Devido à cheia do Rio Madeira em Rondônia, o estado acreano está em situação de calamidade pública e a BR-364 está interditada completamente, impossibilitando a passagem via terrestre entre o Acre e os outros estados do país.
“Mas já fiz contato e fiquei sabendo que é possível passar através de um caminhão prancha e nesta quinta-feira (10) pretendemos seguir viagem”. E na quinta, o casal seguiu sua rota de destino para mais estrada e mais lugares.
‘O sonho tem que ser incentivado’
Eduardo e Lurdes são unânimes ao responderem sobre os questionamentos do que os levou a cair na estrada. Como em um coral, respondem: o sonho. E, para Eduardo, a proteção vem dos deuses. “Quando você está realizando um sonho, todas as coisas conspiram para que aquilo dê certo. Quase nunca temos notícia de um aventureiro machucado. Por quê? Porque eles estão realizando o sonho deles e uma áurea protege”, acredita.
A grande recompensa, segundo o engenheiro aposentado, tem sido o incentivo que eles têm proporcionado para quem acompanha a viagem em seu site, onde posta constantemente seu diário de bordo. “Recebemos e-mail dizendo que estamos incentivando outras pessoas a fazerem essa viagem. Ficamos felizes demais. As pessoas vão sonhando e construindo as coisas. O sonho tem que ser incentivado, o ser humano é o único animal que sonha e o mais interessante é que não pagamos por isso. É bom, barato e o mundo é movido por eles”, reflete.
Lurdes confirma a teoria do marido e diz que a sua vontade sempre foi conhecer vários países, desejo que ficava claro em sua infância. Ao ser questionada sobre o medo de fazer tal aventura, ela sorri singela e diz que essa palavra não existe no seu vocabulário. “Desde criança eu ficava vendo atlas, mapas, então eu já viajava muito através da mente. Não tenho medo. Conhecer novos lugares, pessoas e países, é a realização de um sonho. Assim, tudo vale a pena”, finaliza.